“Nossos adultos não foram dizimados por uma praga, por isso ainda estão presos ao passado esperando a volta dos bons tempos”
Nessa semana da consciência negra resolvemos trazer indicações de autores e pessoas pretas que nos passam mensagem que merece ser ouvida! A de hoje, é o livro escrito por uma mulher negra, Octavia E. Butler, que em 1995 estava escrevendo distopias sobre o que ela imaginava que seria o nosso hoje. E Octavia, sendo uma das primeiras autoras mulheres e negras a se aventurar nesse gênero, me ensinou muito.
Eu comecei a ler esse livro como um desafio para o mês da consciência negra, uma distopia feminista e ambientalista é completamente o meu tipo de livro e foi nesse livro que eu percebi que quando um autor cria uma distopia ele cria um inferno particular.
E como mulher branca que estava acostumada a ler Margaret Atwood e George Orwell, quão rico, porém sofrido, foi compartilhar as angústias de uma mulher negra que vivia em uma Califórnia assombrada por incêndios. Octavia via os anos 2024 como um ano sem liberdade, com muita violência e com fogo.
O fogo para a personagem Lauren é o símbolo da loucura e da finitude. E apesar da característica distópica, Octavia e Lauren tem percepções de mundo que não poderiam estar mais corretas. Em muitos momentos desse livro eu me senti em 2020. O que Lauren vive em 2024 apesar dos exageros, não está tão distante da nossa realidade.
As drogas e o tráfico, como elas são tentadoras para quem não tem nada. Keith, o irmão de Lauren, poderia viver hoje em dia. Um garoto cheio de sonhos e pouco juízo tentado por dinheiro fácil e morto de forma misteriosa.
Os ataques, com fogo, me lembraram da síria e de ataques no mundo todo com bombas nucleares. Países destruídos e muitos refugiados que tem que lidar com o preconceito e a pobreza.
“Todas as lutas são essencialmente lutas por poder”
E além desses temas, a autora ainda consegue falar com a profundidade necessária sobre machismo, escravidão, privatização, religião e muitos outros assuntos.
Focando na parte ambiental do problema, toda a trama do livro diz sobre como os seres humanos (inundados de pobreza e ameaça) acabaram com os recursos da terra e os governos se veem incapazes de conter a crise. Nesse mundo, muitos acreditam em soluções mágicas, empresas, no poder do dinheiro e muitos acreditam que a resposta está nas estrelas.
“Não podemos fazer o clima voltar ao que era antes, independentemente do motivo que o tenha levado a se alterar, você e eu não podemos”
Eu os convido a tentar entender o papel de Lauren em tudo isso. Uma garota negra, facilmente confundida com um garoto e capaz de ensinar e sentir a dor das outras pessoas como se fosse sua, buscando um pedaço de terra para viver em paz e semear sua verdade para um amanhã mais justo. Se ela estava certa ou não, Octavia não viveu para saber. Mas nós temos a responsabilidade de sermos mais empáticos e responsáveis com o mundo que deixaremos para as Laurens e Keiths do futuro. Eu não espero viver num mundo onde terei que escolher se tenho mais medo dos meus semelhantes ou do que fizemos a natureza.
“A mudança é constante”
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